Frase do dia

"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor"
(Wolfgang Amadeus Mozart)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Gerações

A menina sentou ao lado de sua mãe. Passava na TV uma daquelas reportagens sobre adolescentes que os pais amam, mas os próprios adolescentes odeiam. O tema é extremamente original: Gravidez.
-Minha filha. Vê se fica esperta viu?! Olha só o que aconteceu com essas meninas. Escute sua mãe, aproveite meus conselhos.
-Tá mãe...
- Porque homem minha filha só quer saber disso. Essas coisas você simplesmente não pode fazer. Mocinhas têm que ser espertas.
-Fazer o que?!
-Porque você, do jeito que é! Ai minha filha você é tão ingênua acredita em todo mundo. Cai na conversa de qualquer um. Lembra lá na praia?! Nem conhecia a pessoa com que estava conversando... E já foi logo dando trela...
-Ai essa historia de novo... Quantas vezes eu vou que dizer que eu tinha 12 anos e que a pessoa que estava dando trela também tinha 12. Ai ninguém merece.
-Mas ela não estava sozinha. Duvido que aquele homem que estava com ela era o pai. Tá vendo, como é inocente.
-Ah ta bom então.
A menina sabia que aquela conversa não ia a lugar algum como as várias outras que já tivera antes e numa tentativa desesperada para que talvez assim sua mãe mudasse de assunto, trocou de canal.
Dentro da sua mente, a menina comentava para si mesma:
-Ora, nunca pensei sobre isso, e nem queria estou bem do jeito que estou, mas caso aconteça algo que me faça mudar de idéia sei que com a minha mãe não posso contar. Já sei onde a conversa iria começar e parar.
Dessa vez na TV agora estava passando uma novela, não que a menina gostasse, mas sinceramente não gerava grandes assuntos.
-Triiiiiiiiiiiiiimm. Triiiiiiiiiiiiiiim
- Alguém atende ao telefone, por favor.
- Triiiiiiiiiiiiiimm. Triiiiiiiiiiiiiiim.
- Ai pela Chagas de Cristo. Que povo preguiçoso.
-Vó o telefone é na novela.
- Né não minha filha. Viu até parou de tocar.
-Vó é na TV. Ah deixa pra lá.
-No meu tempo os mais novos demonstravam mais respeito.
-Ih mãe. Não liga não sabe como ela é. Sempre ignora o que a gente fala. Um dia quando for mais velha e tiver um problemão nas mãos vai dizer ‘Ai se eu tivesse escutado minha mãe’.
-Eu não estou acreditando nisso. - E Mais uma vez, a menina mudou de canal. Dessa vez passava um documentário sobre cirurgias.
-E ai vai tentar medicina mesmo.
-Não mãe. Já falei que quero fazer psicologia.
-Mas quem vai herdar o consultório de seu pai hein minha neta.
-Sei lá, vó. Vende.
-É assim que se preocupa com o trabalho que te sustenta?! Olhe...
-Nossa. A novela. Que interessante.
Mudou o canal. A menina havia retornado onde passava a novela.
-Coitada. O pai vai expulsar ela de casa.
-Bem feito, que mandou cair na lábia daquela cafajeste.
-É...
-Viu minha filha por isso que falo pra você me escutar. Viu como você é parecida com a mocinha da novela.
-Alguém atende ao telefone...
Em silêncio a menina se levanta e vai para o seu quarto. Foi mexer na internet. Enquanto isso o telefone tocava e dessa vez não era na TV.

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